“O Colégio de Património Arquitetónico (CPA) organizou com o apoio da DIASEN IBERICA no passado dia 24 de setembro o Colóquio “Geração de 22”, que decorreu na Escola António Damásio, em Lisboa.
À conversa com dois dos membros da organização do evento, Diana Roth e João Appleton, do CPA, e que também integra Pedro Alarcão, procurou-se explicar as razões da importância dos arquitetos da Geração de 1922, responsáveis por uma abordagem à arquitetura que ainda hoje é pertinente e que temos todo o interesse em reforçar.
Conforme nos contam, a ideia do CPA é que todos possam conhecer não só a obra de alguns arquitetos que marcaram de forma indelével a “Geração de 22”, mas também os seus muitos interesses por saberes de outras esferas do conhecimento.
Assim, explicam que se pretendeu que cada um dos quatro arquitetos escolhidos para abordar neste Colóquio, a saber: Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha, Victor Palla e Francisco da Conceição Silva, tivesse pelo menos duas pessoas a explanar o seu legado, não só no campo da arquitetura, mas também noutros campos onde cada um deles multiplicou o seu trabalho e saber. Desta forma, sobre Nuno Teotónio Pereira tivemos como oradores Gonçalo Byrne e José Pedro Croft, sobre Manuel Tainha contamos com Alexandre Marques Pereira e Manuel Botelho, sobre Victor Palla os convidados foram João Palla e Henrique Cayatte e sobre Francisco Conceição Silva vaguearam as arquitetas Ana Tostões, Inês Marques e Suzana Barros Querubim.
Houve igualmente espaço para debate moderado por Fernando Sanchez Salvador, membro da Comissão Executiva do CPA, um momento dedicado à ligação entre a Arquitetura e o Cinema, proposto por Luís Urbano. A sessão de Encerramento ficou a cargo de Pedro Alarcão, Presidente da Mesa da Assembleia do CPA.
O Colóquio “Geração de 22” terminou com uma visita à Escola António Damásio, projetada e requalificada por Manuel Tainha guiada por Alexandre Marques Pereira.
– Segundo Diana Roth e João Appleton, uma das missões, “não só deste Colóquio, mas de toda a atividade do CPA”, é sensibilizar para a ideia de que “a arquitetura do século XX também é património”. “Quando se fala no Colégio do Património as pessoas poderão pensar que estamos apenas preocupados com o mais antigo, mas existe todo o património do século XX, que é cada vez mais estudado, mas que ainda está pouco salvaguardado e para o qual se pretende chamar a atenção”, concretiza Diana Roth. “O facto de ainda não ser reconhecido por uma parte da sociedade torna-o mais vulnerável”, resume. João Appleton, diz-nos que “durante a década de 20, apareceu um conjunto de arquitetos muito relevantes com muita obra pública e privada, cuja memória importa lembrar e proteger.”
– Para Diana Roth esta geração é particularmente significativa, “muito por causa do panorama intelectual da época, em que não só os arquitetos, mas outras figuras da cultura, toda uma geração, vivia num ambiente intelectual onde tudo se misturava: a ciência, as letras, as artes, o design,” razão pela qual “no CPA decidimos que neste Colóquio teremos sempre dois oradores, um para falar da obra de cada um dos arquitetos que selecionámos, e outro para abordar outras áreas ou disciplinas em que esses arquitetos também tiveram preponderância ou com as quais se relacionaram.” No mesmo sentido João Appleton sublinha que “estes arquitetos, além da dominarem a sua disciplina, também tinham interesses relacionados com as artes plásticas, com o desenho de mobiliário ou com a fotografia, por exemplo”, mensagem que, ambos concordam, mantém toda a pertinência na contemporaneidade.
– O período em que estes arquitetos exerceram a sua prática corresponde a uma altura em que “as pessoas iam pouco ao estrangeiro, o que levava a que houvesse uma cultura de tertúlias muito forte, com sessões de slides, debates sobre os mais variados temas”, assinala Diana Roth, e em que, paralelamente, segundo João Appleton, “a profissão deu um salto em termos numéricos em parte pelas novas exigências regulamentares, pois nas primeiras duas ou trás décadas do século XX havia muito poucos arquitetos. “Trouxeram conhecimento de fora, ou refletiram sobre a informação que chegava a Portugal, introduziram novas formas de pensar e de fazer”. e no caso destes quatro arquitetos trata-se de “uma geração que nasceu ainda antes da ditadura, cresceu em ditadura, num ambiente que não era o mais favorável, o que torna ainda mais notáveis a modernidade e a liberdade das suas obras”.
Assim, concluímos que a ideia do Colóquio foi, precisamente, salientar estas dimensões da pluridisciplinaridade e de modernidade, e nele tomaram a palavra um leque de pessoas que conhecem profundamente a obra destes arquitectos, mas também outras que estudaram áreas de interesse e trabalho destes arquitetos e desta geração.
Em síntese, segundo Diana Roth e João Appleton, “para o CPA é muito importante assinalar, aquilo que defendemos, ou seja, que o património não se esgota no passado longínquo, ainda mais em Portugal onde a arquitetura é uma área forte, um país onde existem dois prémios Pritzker, e um conjunto de arquitetos com grande projeção na Europa e no mundo”. Importa salientar que, “o pensamento e a obra deste conjunto de quatro arquitetos pode ser visto como bastante contemporâneo, por serem ótimos exemplos de uma prática que agregava ou tocava em várias disciplinas, o que voltou a ser uma preocupação incontornável nos tempos que vivemos hoje”.
O CPA apresentou assim o Colóquio contando com o apoio da DIASEN IBÉRICA como mais uma das iniciativas que tem desenvolvido ao longo deste mandato, procurando alargar o âmbito dos seus temas, de forma a promover e valorizar o conhecimento sobre o património arquitetónico. “O prémio que lançámos, as mesas redondas, as visitas técnicas e agora o Colóquio, são as quatro vertentes da ação deste colégio, com vista a cumprir os seus objetivos de divulgação do conhecimento na área que lhe é específica – o património arquitetónico”.